RESPM-MAI_JUN-2015-alta
entrevista | daniel miller Revista da ESPM |maio/junhode 2015 108 tões que têm a ver com a internet, como a censura na China. No Brasil, nosso trabalho estava em curso du- rante a revolta que aconteceu antes das eleições. Então, sempre há even- tos políticos se desenrolando duran- te o tempo em que fazemos pesquisa de campo. Em geral, nós diríamos que o que é interessante é o modo como a mídia social, em muitos des- ses lugares, evita qualquer relação com a política. Revista da ESPM — Evita? Isso é surpreendente. Miller — Particularmente as formas mais públicas de mídia social, como o Facebook. Elas são as mais, diga- mos, limitadas no seu engajamento com a política. O problema é que as pessoas que estudam política e ativismo tendem a falar muito sobre o Twitter e outras mídias sociais. Isso é assim, porque elas focam nos tuits e nos posts sobre política. O que elas não fizeram, mas nós fizemos, é simplesmente viver com as populações. Se você olhar para as revoltas no Brasil, por exemplo, vai descobrir que elas, virtualmente, não apareceram nas mídias sociais mesmo por aí. Revista da ESPM — Não era essa a nossa sensação à época. Miller — A população dentro da qual estávamos trabalhando teve muito pouco engajamento. É um assunto sobre o qual as pessoas não pare- ciam ter o que reportar ou discutir na mídia social naquele momento. Agora, se você focar nos posts sobre os protestos, parece que os protestos eram muito importantes. Mas não é isso que nós fazemos. Nós vivemos com uma população e vemos se a política de fato aparece nas posta- gens do seu dia a dia. E não aparece. A razão para isso é que a política é uma área problemática. É muito fácil ofender outras pessoas. É muito fácil ter problema com as coisas que você posta. Então, é mais provável que esse tipo de discussão avance em mídias sociais mais privadas, como o WhatsApp. De fato, em algumas das áreas em que trabalhamos, onde a política é muito perigosa, como a Turquia, as pessoas usam perfis fal- sos ou perfis anônimos. Mas a esma- gadora evidência para a mídia social pública, como o Facebook, é que ela é muito conservadora, porque as pes- soas veem o que você está fazendo. Revista da ESPM — Nossa sensação de que a mídia social é politizada seria um erro de amostragem? Miller — A vasta maioria das posta- gens políticas é cômica. Isso significa tirar sarro dos políticos, de vários modos, porque tirar sarro de políticos é uma coisa muito segura de se fazer. Assim, é provável que você crie mais vínculos comseus amigos. Nãoécomo fazer comentários políticos fortes, que as pessoas geralmente evitam. Então, na realidade, o impacto na democra- cia e nos outros temas políticos, eu suspeito, émenor do que amaioria das pessoas pensa. Tanto de um ponto de vista positivo quanto de um ponto de vista negativo. É uma área não muito importante para a política. Oproblema é que, como as pessoas estudampolíti- ca, elas exagerambastante. Revista da ESPM — Quais são os próximos passos do Global Social Media Impact Study? Miller — Em fevereiro de 2016, va- mos pôr no ar o nosso site, o “Why we post?” . Simultaneamente, vamos lançar também um curso universi- tário e 12 livros. Tudo isso vai estar disponível por Open Access [sistema de disponibilização na internet de literatura científica]. Ou seja, tudo gratuito. Todo o site e o curso univer- sitário estarão disponíveis em portu- guês para o público brasileiro. Esta é a nossa intenção: tudo gratuito, em tantas línguas quanto pudermos! shutterstock
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx