RESPM-MAI_JUN-2015-alta

entrevista | daniel miller Revista da ESPM |maio/junhode 2015 104 dade. Eles não gostam, por exem- plo, de que outras pessoas entrem nas suas casas, de jeito nenhum. Consideram esse targeted adverti- sing muito invasivo, o que causa uma reação extremamente negati- va a empresas que usam esse tipo de publicidade. Extremamente. Revista da ESPM — A ponto de forçar uma revisão desse modelo de negócio? Mi l ler — As minhas evidências sugerem que a nova forma como as companhias estão tentando finan- ciar suas atividades na internet, que não é fazer as pessoas pagarem por elas, mas usá-las para coletar dados em massa que permitem fazer mais targeted advertising , vai causar perdas, e não benefícios, a essas empresas. Vai colocar as pessoas contra essas companhias e torná-las menos abertas a comprar seus produtos. Mas, veja, isso é por causa de uma característica bem específica da identidade inglesa. Os ingleses têm essa questão com a invasão da privacidade, a qual você não encontra, eu diria, no Brasil ou no Chile. Então, não posso dizer que o targeted advertising provocaria o mesmo efeito problemático se esti- véssemos falando de Chile e Brasil. Revista da ESPM — E nos outros lu- gares onde fizeram a mesma pesquisa, qual é a reação? Miller — Vejo isso apenas entre os ingleses. Então, uma vez mais, isso mostra que as pessoas só leem os livros-texto de marketing e de ne- gócios e acham que suas regras ge- rais se aplicam em todo e qualquer lugar. Elas não pensam nessas dife- renças culturais que se aplicam às questões de consumo e de mercado tanto quanto se aplicam a todos os outros aspectos de nossas vidas. Revista da ESPM — Em um de seus posts no site do Global Social Media Im- pact Study, o senhor afirma que as crian- ças inglesas ainda usamo Facebook, mas ele não émais tão cool . Por quê? Miller — A ironia é que alguns pou- cos anos atrás os pais diziam a seus filhos para não estar no Facebook. Agora, os pais insistem para que essas crianças fiquem no Facebook, uma vez que pais e avós estão no Facebook e o usam para comparti- lhar informações com elas. É por isso que ele se tornou algo muito mais voltado para famílias. Foi por isso que eu disse que o Facebook não é cool de nenhummodo. O lugar aonde você vai para se conectar com seus avós não é exatamente cool para falar com os amigos da sua faixa etária. Na realidade inglesa, o lugar onde esse tipo de interação acontece mais agora é o Twitter. Nas escolas onde trabalho, muitas das classes têm contas no Twitter que usam para contatar os alunos. Isso não é alguma coisa que eu tenha descoberto. É absolutamente claro para todos os professores e para os pais que o Facebook não pode ser usado quando você realmente quer se conectar com crianças em idade escolar. Elas usam Twitter, Instragram, Snapchat em particu- lar e ainda usam um pouco de BBM OusodemídiassociaisnaBahiaémuito”baiano”. Parececomos romancesde JorgeAmado, nosentidodequehámuita fofocaediscussõessobresexo shutterstock

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