RESPM-JUL_AGO-2015-alta
julho/agostode 2015| RevistadaESPM 23 não. O absurdo da discriminação ainda ignora o fato de que quartos minúsculos podem ter qualidade de vida adequada e ainda custar pequenas fortunas emcidades como Tóquio, por exemplo. Umdos bons arquitetos que conheci realizou estudos em habitações populares de comunidades do Rio de Janeiro nos anos 1970, que evi- denciaram o desprezo dos moradores pelas salas, pois nas cozinhas éque ocorria a vida social.Muitos dos quar- tos das casas dos bandeirantes, do início da ocupação do território nacional, não tinham janelas, por razões óbvias, razões estas que talvez estejamsendo repetidas hoje. A legislação, emqualquer época, temde preservar o direito individual do cidadão de morar da forma que desejar, por vontade própria, por tradição do seu grupo social ou por qualquer outro motivo. Sobre os lugares dos vizinhos A grama do vizinho é mais verde, mas nós não criamos as condiçõesparaque anossafloresçaverde eviçosa. Nas décadas recentes, mais e mais brasileiros estão tendo a oportunidade de viajar pelo exterior. A cada viagem, as redes sociais são invadidas por milhares de imagens de viajantes deslumbrados comos lugares dos outros. Arra- nha-céus irrompem na antiga paisagem horizontal dos tigres asiáticos e dos Emirados Árabes e extasiam visi- tantes, mas nossa legislação praticamente veda essas grandes e ousadas construções. Passeando por quase todas as grandes cidades europeias, cheias de letreiros e propagandas, as pessoas demorama entender que não sãoessas imagens quepoluemnossoshorizontes, e simo desordenado, caótico e agressivo visual dos postes e fios de todos os tipos espalhados por nossas ruas e avenidas. Visitar prédios de grande valor histórico, cujo interior foi adaptado para um uso adequado aos tempos modernos — prática conhecida como retrofit —, é outro dos bons pro- gramas dos turistas, mas somente no exterior, pois pou- cas cidadesdoBrasil dispõemde legislaçãoquediscipline essa atividade e nenhuma delas a incentiva. Oque dizer então dos pitorescos vilarejos na escarpada beira-mar do litoral italiano com seus antigos edifícios se acomo- dando entre a montanha e o mar? Vivenciar esse privi- légiomuito provavelmente continuará a ser uma prerro- gativa dos turistas, pois nossos legisladores, em quase todo o país, proíbemque construções sejamexecutadas em encostas à beira-mar. O desfilar de exemplos como Arranha-céus irrompemna antiga paisagemhorizontal dos tigres asiáticos e dos Emirados Árabes shutterstock
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