RESPM-JUL_AGO-2015-alta

entrevista | Jaime Lerner Revista da ESPM | julho/agostode 2015 14 à mobilidade. E, por fim, a questão da sociomobilidade, ou seja, a to- lerância e a convivência. A diver- sidade é fundamental para você conviver com diferentes fai xas de renda. Uma das coisas de que eu mais gosto em Curitiba é que existe uma comunicação entre as pessoas. Elas não ficam isoladas, como acontece quando você levan- ta um muro de condomínio. Quan- to mais alto o muro, mais gente vai te esperar na hora da saída. Revista da ESPM — A arquitetura está contribuindo para esse isolamento? Lerner — A falta de visão dos em- preendimentos imobiliários em nosso país é trágica e a moradia está cada vez mais cara. Por mais que as cidades possam oferecer, fica esse dilema do isolamento. Um cantinho para cada necessi- dade, um cantinho para o gourmet e outros serviços que as cidades nat u ra lmente podem oferecer. Uma coisa que me deixa preocu- pado são os arames farpados nos muros. Isso me lembra uma série de coisas trágicas no mundo, como os campos de concentração. Na verdade, quem coloca arame far- pado em seu muro é que está se tornando prisioneiro. Não temos mais ladrões que pulem os muros. Hoje a circunstância do assalto se dá de outra maneira. Revista da ESPM — Como a socieda- de pode reverter essa realidade? Lerner — O poder público não deve continuar dizendo o que não deve ser feito. E sim elencar aquilo que ele próprio deve fazer. Cada vez mais as regras dos burocratas são exageradas e desnecessárias. Existem algumas coisas que são fundamentais, aquilo que pode causar prejuízos às vizi- nhanças, tudo isso se pode exigir sem acrescentar muitas medidas desne- cessárias e onerosas, como o tama- nho do degrau, da piscina etc. Vejo em muitas cidades, como em São Paulo, verdadeiras casamatas em frente aos prédios. Se fossemcolocados todos os guardas dos prédios na rua, a cidade teria omaior exército domundo. Revista da ESPM — O Brasil tem a mania de grandiosidade em projetos que nunca saem do papel. O senhor de- fende a ideia de “acupunturas” urbanas. Não é hora de pensarmos pequeno? Lerner — O conceito de acupuntura prevê soluções simples que as cida- des poderiam realizar rapidamente. Seria uma transformação na região, sem muito custo. São realizações, seja na área da mobilidade, seja em pequenos equipamentos sociais de uma vizinhança, que podem melho- rar a qualidade de vida e criar uma nova energia. Essa acupuntura vai melhorando a cidade semesperar por projetos complexos que demoram 20 anos para serem implantados. Hoje, a comunidade, insatisfeita com as demoras, faz mudanças por conta própria. Em todo mundo é assim. Você podemelhorar o seu espaço. Paris temamoradamais barata domundo. Na capital da França é possível comprar umapartamento por 130mil euros. Eles têmapenas 12m 2 de área, mas não precisammais do que isso, porque a cidade oferece o resto latinstock

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