RESPM-JUL_AGO-2015-alta

julho/agostode 2015| RevistadaESPM 11 Ascidades sãooúltimo redutodasolidariedade Por Arnaldo Comin Foto: Latinstock P refeito de Curitiba por três mandatos e duas vezes governador do Paraná, o arqui- teto Jaime Lerner é um raro exemplo de político brasileiro que alicerçou sua car- reira no planejamento urbano. Mais do que teórico, Lerner transformou a capital paranaense em referência internacional a partir de projetos simples, baseados naquilo que chama de “acupuntura urbana”. Pequenas intervenções que irradiamefeitos po- sitivos para todo o “corpo” da cidade. Assimnasceu o celebrado sistema integrado de ônibus BRT ( Bus Rapid Transit ), de Curitiba, que inspiroumais de 300 cidades em todo o mundo. Pragmático, Lerner é otimista com o futuro das cidades brasileiras, mas cobra dos agentes públicos uma nova visão de ocupação do solo. “Os governos estão mais preocupados emdizer o que não pode ser feito do que em pensar no que eles mesmos podem fazer pela cidade. A bu- rocracia é o nosso grandemal”, enfatiza. Pensar a metrópole, segundo ele, é rever o papel da mobilidade e integração da vida das cidades, aproximando trabalho, lazer, moradia e as diferentes classes sociais. Menos obras grandiosas que não saemdo papel — “a Copa doMundo foi uma tragédia não só no futebol” — e mais humanização do espaço público. Descendente de judeus poloneses, uma das maiores tristezas que Lerner sente é ver grandes muros cobertos com arame farpado. “Isso lembra o que há de pior na humanidade, como os campos de concentração. Quem constrói esse muro não percebe que é ele quemestá preso.” Romper o isolamento é devolver a cidade para as pessoas. “O automóvel é o cigarro do futuro. Com o espaço reservado para garagens, poderíamos criar habitação muito mais ba- rata nos centros.” Citando clássicos da ficção científica, Lerner acredita que o futuro nem é o idílio de Flash Gordon , nem a decadência de Blade Runner . A cidade é o espaço onde podem prosperar a solidariedade e a sustentabilidade de que o planeta tanto precisa. “Não serão os governos centrais que irão reduzir as emissões de carbono. Caberá às cidades fechar a equa- ção entre o que se poupa e o que se desperdiça.”

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