Revista da ESPM
entrevista | Hugo Rodrigues Revista da ESPM | janeiro/fevereirode 2015 82 tal e é amplificada coma comunicação de massa. Agora, tem de afunilar na hora do serviço e da entrega, comuma experiência de compra legal. Aí você multiplica tudo issoone off-line. Alexandre — Experiência me parece a palavra-chave. A experiência do cara que entra numa loja, fica encantado e compra por impulso — seja na loja da M&M’s, seja na loja da Apple. Ou, ain- da, a experiência do cliente que entra num site, consegue efetivar a compra e conta para os amigos. Qual o papel da comunicação nesse movimento? Hugo — Você tem de entrar no proble- ma do cliente. Tem de sentir a “dor de dono”, para poder, junto com ele, de- senvolver uma estratégia de comuni- cação que abranja tudo isso. Se a sua propaganda virar um hit , o seu consu- midor vai virar um fã. Se ele virar um fã, vai fazer propaganda da sua marca e, aí, você terá um boca-a-boca em escala global. É simples assim. A ideia é transformar a sua propaganda em hit e fazê-la “colar”, mas não é colar só com um jingle, por exemplo. É per- ceber o movimento do consumidor e fazer com que a propaganda o acom- panhe, estando no coração dele. O consumidor é quemvai fazer comque amensagemdamarca semultiplique. Às vezes ouvimos que a propaganda tem de estar onde o consumidor está. Mas o fato é que, no futuro, o meio mais eficaz vai ser o celular, que já vi- rou uma extensão dos nossos corpos. Alexandre — Neste contexto, qual é o maior desafio? Hugo —Nosso desafio hoje não é o sof- tware. É o hardware. É a infraestrutu- ra. É fazer comque a parte tecnológica funcione — porque de nada adianta uma baita ideia se der pau na hora de operacionalizá-la. Se a rede não che- gar ao consumidor. Se o wi-fi cair. Te- mos dois grandes desafios: a tecnolo- giaparaoferecer esse tipode serviço; e o entendimento do consumidor brasi- leiro. Não estamos na Suíça. Segundo pesquisas, um brasileiro gera só 30% da produtividade de um americano. Isso serve também para nosso nível de aprendizado. Se eu sou o interessa- do em vender e conquistar sua prefe- rência, o jeito é criar ferramentas que facilitem o seu aprendizado. É aquela frase icônica do Fausto Silva: “Existe o país de Primeiro Mundo e o país de TerceiroMundo. O Brasil é umpaís de outromundo”. Alexandre — Você já disse em uma entrevista que todo o profissional da Publicis hoje é multiplataforma ou, pelo menos, está sendo preparado para assu- mir esse papel. Como é que se forma um profissional multiplataforma? Hugo — Errando. O Jim Collins, que é tido como um novo Peter Drucker, diz que nós vivemos na era do “erre rápido, aprenda rápido e conserte rápido”. Hoje, todos nós somos imi- grantes neste novo mundo. Quando falamos dos web natives , estamos tratando de uma porçãozinha ain- da muito pequena do mundo para catequizar todo o resto. Você tem de tomar por base a multidão, que é imigrante neste mundo. Alexandre — Você é o profissional mul- tiplataforma? Hugo — Eu me considero uma pessoa curiosa, investigativa, estudiosa e disciplinada. Tento acompanhar a velocidade das mudanças que estão acontecendo. E tem dado certo. Eu não sou fiel a um dogma. Sou fiel ao desenvolvimento, e desenvolvimen- to, ameu ver, inclui as palavras adap- tação e flexibilidade. Alexandre — Vocês devem ter um monte de nativos digitais na Publicis. Como é esse aprendizado mútuo? Hugo — Quando você nasce num mo- mento favorável, tende a acreditar que está 100%certo. Talvez aí esteja o gran- de desafio para essa geração. É preciso adaptar essa autonomia digital a uma realidade ainda em desenvolvimento, porque se eu der dez passos à frente do consumidor ele não vai entender para onde estou indo. Eu devo estar só um passo à frente dele. Se estiver a dez, es- tarei falando mandarim com ele. Esse aprendizado, alguns profissionais da Geração Y e da Geração Z têm mais rápidodoque outros. Alexandre — Você está sugerindo com isso que parte dos nativos digitais está correndo rápido demais? Nosso desafio hoje não é o software. É o hardware. É a infraestrutura. É fazer comque a parte tecnológica funcione – porque de nada adianta uma baita ideia se der pau na hora de operacionalizá-la
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx