Setembro_2007 - page 110

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SETEMBRO
/
OUTUBRO
DE
2007 – R E V I S T A D A E S P M
Mário
Marconini
dogoverno Lula de colocar assuntos
comerciais em segundo plano em
relação à “parceria estratégica” exis-
tente (oficialmente) com a China.
Assim, enquantoosEstadosUnidosoua
UniãoEuropéiaserecusamaconceder
o
status
de economia demercado à
Chinaparaefeitosdedefesacomercial
(
anti-dumping
, salvaguardas, direitos
compensatórios), o governo Lula
prontamente o concedeu, inclusive
sem consultas ao setor privado ou
aos parceiros do Mercosul – ambos
os quais reagiram de forma bastante
explícitaem suaoposição
post-facto
.
EmviagemàChinaem2004,oPresi-
dente chegou a sugerir a negociação
deumacordode livrecomérciocom
aChina–uma iniciativaquenão faria
sentidoparaumgovernoque seopôs
à ALCA em virtude da ameaça de
concorrência externa que ela repre-
sentava.AChinapareceriaconfirmara
premissadequeacordosdecomércio
nosúltimos anos têm sidovistospelo
prisma da política – e não com base
em avaliações empíricas de custos e
benefícios comerciais.
CONCLUSÃO
A recente crise
sup-prime
(Agosto
de 2007) realça “um” Brasil que
fez sua lição de casa financeira e
evoluiu em aspectos institucionais
importantes. De fato, a crise deverá
alimentar a percepção por parte de
agências de risco, analistas e ope-
radores de mercado de que o país
talvezsejaumdospoucosnomundo
emergentequepossa suportar crises
internacionais sem que tenha de
tomarmedidas“emergenciais”. Isto,
claramente, éuma indicaçãodeque
o país está avançando, ainda que
mais lentamente doque opossível.
O custo de oportunidade é talvez o
elementomais importante da situação
atualdoBrasil–ouseja,ocustodenãose
aproveitaraomáximoasoportunidades
queseapresentamnesteinéditoperíodo
decrescimentoeprosperidademundiais.
Reformasnãoocorreram,lentidãoeam-
bigüidade regulatória têm prevalecido,
políticasnãolograramsinalizaroudefinir
estratégiasqueassegurema iniciativa
e o interesse privado. Omomento é
de grande perda de oportunidade já
que comumpoucode esforço regu-
latório, institucional e político o país
poderiaestaratraindoaindamais IDE
e transformandoopanoramade suas
relações comerciais.
A boa notícia é que há um consenso
crescente sobre o que se deve fazer
para que oBrasil satisfaça seu enorme
potencial. Amánotíciaéqueopaísnão
parece estar em posição demobilizar
a vontade política necessária para que
isso ocorra no curto oumédio prazos.
Quando perguntado sobre se o Brasil
poderia efetivamente ser umBRICnos
próximos 50 anos face à sua rigidez e
deficiências,ocriadordotermo“BRIC”e
coordenadordoestudooriginalde2001
patrocinadopelobancodeinvestimentos
GoldmanSachs respondeuqueoBrasil
estáfadadoaserumBRIC
atémesmose
continuar acrescer timidamente,como
tem feitonasúltimasdécadas
.Oestudo
assumiuqueataxadecrescimentodo
Brasil seriacercademetadeda taxa
indiana ou chinesa para operíodo.
NoBrasil vivemos ainda o princípio de
que “o ótimo é o inimigo do bom”. A
complacênciae“
gioiadefarniente
”(alegria
denada fazer) implícitasnesteditado são
preocupantesapesardenos fazerumdos
povosmaissimpáticosdomundo.Ojogo
dacompetitividadeeda inserção interna-
cionalrequermaisdoqueisto.
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MÁRIOMARCONINI
É Professor Associado da ESPM e
Presidente do Conselho de Relações
InternacionaisdaFecomércioedacon-
sultoriaManattJonesMarconiniGlobal
Strategies. Foi Secretário de Comércio
Exterior (1999) eeconomistadoGATT/
OMC emGenebra (1988-1996).
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