Marco_2009 - page 26

BrettonWoods
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R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
26
sua balança comercial. Quando visto
de formamaisampla, incluindo, além
dosbens tangíveis, os serviços, rendas
e doações internacionais, esse fluxo
pode ser chamadode saldoemconta
corrente, ou de conta de transações
correntes, do país. O saldo em conta
corrente tambémpode ser vistocomo
a transferênciadepoupança.Quando
umpaís tem saldonegativo em conta
corrente, esse país importa poupança
do resto do mundo. Ao contrário,
quando sua conta corrente é supera-
vitária,eleéumexportador líquidode
poupançasfinanceiras.
Rigorosamente, a soma do saldo em
conta corrente de todas as nações do
mundodevesomarzero.Ouseja,aex-
portaçãodeumpaísequivaleà impor-
taçãodeoutro,eassimosomatóriodos
saldos superavitários temde ser igual,
noagregadodaeconomiamundial,ao
inversodo saldodosdeficitários.
Um fatocuriosoéquea somados sal-
dosemcontacorrentede181paísesdo
mundo, reportadosno relatório
World
EconomicOutlook
doFMI,nãoézero.
Ográficomostraovalordosaldo,que
segundooFMIfoideficitárionamaioria
dos anos atémeados desta década, e
agorapassouaumsuperávitque tende
aaumentarnospróximosanos.
Antesqueoleitorsejalevadoaacreditar
que encontrou uma prova econômica
cabal que atesta a existência de vida
emoutrosplanetas,cumpreesclarecer:
trata-se do efeito acumulado de um
conjuntodeerroseomissõesqueacon-
tecemnos vários países.Na realidade,
mesmocomasmissõesespaciaisrecen-
tes,osaldoemcontacorrentedomundo
ézero–poisnãose temnotíciadeque
astronautas praticaram qualquer tran-
saçãoeconômica interplanetária–mas
os problemas de mensuração geram
estatísticaspositivasounegativas.
Ospaísesquesãodeficitáriosnaconta
corrente, osquaisem termos líquidos
são importadores de bens e de servi-
ços, precisam de financiamento de
outros países para fechar a sua conta
de divisas internacionais. Este finan-
ciamentoé registradoemoutraconta
do balanço de pagamentos, a Conta
Capital eFinanceira.
De um lado, os países asiáticos e do
OrienteMédio,grandesexportadores,
eaindaalgunspaíseseuropeus,obtêm
grandessuperávitsemcontacorrente.
Em especial, a China exporta quase
um trilhãodedólaresporanoembens
e serviços, assim como os países do
OrienteMédio têmsebeneficiadode
elevadospreçosdesuaprincipalcom-
moditydeexportação,opetróleo.De
outro lado, os EUA são, isoladamen-
te, o grande deficitário do Planeta,
consumindo produtos importados
de todo o mundo – especialmente
produtos asiáticos – havendo ainda
alguns outros países deficitários na
EuropaenaOceania.
Na prática, os capitais asiáticos che-
gam aos EUA pela aquisição de
títulos do Tesouro norte-americano.
Em especial, os governos asiáticos
acumulam reservas internacionais e
aplicam essas reservas em títulos do
governonorte-americano. Em função
disso, uma parte razoável da dívida
pública norte-americana se encontra
emmãos degovernos asiáticos.Mais
de40%dadívidapúblicanorte-ame-
ricana estánasmãos de estrangeiros,
emboaparteasiáticos.Assim,osEUA
conseguem um superávit na conta
capital e financeira que compensa o
seudéficit emcontacorrente.
Apresençadessedesequilíbrio trazum
risco importante à economiamundial.
Emprimeirolugar,aprincipaleconomia
doPlanetadepende,parasuasolvência
financeira, de países com os quais
mantém relações geoeconômicas deli-
cadas. Em segundo lugar, háumpreço
claramente errado, o preço do dólar
norte-americano.O
greenback
deveria
estarmaisfracocontraoutrasmoedasou,
comopreferemalguns,moedascomoo
iuaneeoeurodeveriamestarmaisfortes
contraodólar.E,defato,quandoapoeira
baixar, épossível queo abandonodos
prédiosantiterremoto leveofluxocam-
bialpara foradosEUA,eodólarvoltea
uma trajetóriadedepreciação.
O grande desequilíbrio global é visto,
pelos investidores,comoumproblema
menor,nestemomentodecrise.Aper-
cepçãoédequeháumadisposiçãoge-
neralizadaemfinanciaroimensodéficit
em transações correntes da principal
economia do Planeta, que passa por
dificuldades momentâneas, mas pos-
sui elevada capacidade de engendrar
ganhos deprodutividade, paracrescer
alongoprazo.Aindabem,poisseassim
não fosse, os catastrofistas de plantão
estariam corretos em suas previsões
sombrias sobreospróximosanos.
Grandespontes
Nasúltimasdécadas,oFundoMonetário
Internacionalacabouassumindoopapel
deconstrutordepontesde liquidezem
países comdificuldadesmomentâneas
de balanço de pagamentos, notada-
mente entre os países emergentes. O
argumento é de que as pontes eram
necessáriasparapaísesque,porcircuns-
tâncias temporárias, se viam diante de
fugasdecapitais,masquesemostravam
solventesamédioe longoprazos.Entre
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