Maio_2005 - page 58

HOMERO, SAID, MINDLIN
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
faziamais mal ao cliente do que ao
processado. Então, émelhorummau
acordo do que uma boa demanda.
Issoeuaplicavanaempresa, também,
no contato com os gerentes, os
subalternos.Trabalhavacomoqueeu
chamavade“portaaberta”.Qualquer
um podia vir falar comigo para
queixar-se de alguma coisa, eu
anotava e dizia: “Nãoposso resolver
isso,passandoporcimadeseuchefe,
mas vou conversar com ele”. Então,
muita coisa se resolvia. Processos
trabalhistas, tínhamos pouquíssimos;
as greves só começaram a existir
quandovieramasgrevespolíticas.Eles
não faziam contra nós; era contra o
sistema.Lembro-meque,umavez,os
operários entraram e ficaram de pé,
junto à máquina, sem produzir.
Quando chegou a hora do almoço,
veio o gerente perguntar se era para
dar almoço a eles. E eu disse: claro
que sim. Não estão lá contra nós. O
jornalista HumbertoWerneck certa
vez perguntou-me: “Olhando para
trás, o que lhe dámais satisfação?A
sua biblioteca ou a Metal Leve?”
Respondi: “A Metal Leve foi uma
experiência gratificante porque
conseguimos, realmente, fazer um
bom trabalho –mas foi um trabalho
deequipe.Abiblioteca,eu fizsozinho.
Tudo que está aí tem uma razão de
ser.Éum interessecentraldevida,que
me deu grandes satisfações. No
primeiro ano de Metal Leve, o
alumínioaindanãoeraproduzidono
Brasil;tinhadeserimportado.Eodólar
de importaçãoeradeCr$18.72,mas
o dólar no mercado paralelo estava
em30, 40. Então, qualquerdiferença
de importação era lucrativa. Houve
umprincípiodecorrupção,naCacex,
até compreensível. Uma licença era
lucro certo. Eu ia lá duas, três vezes
por semana e faziam-nos esperar
horas, às vezes, para nos receber. As
empresas estrangeiras tinham
despachantes que davam dinheiro e
obtinham licença.Euaproveitavaesse
tempo para ler – li toda a obra de
Balzacnassalasdeespera–eacabava
conseguindoa licença.Mas fazíamos
questão de não ter corrupção de
forma alguma.
FG
– Issosechama“responsabilidade
social”, queagoraestánamoda...
MINDLIN
–Tenhosatisfaçãode falar
disso.Hámaisde30anos,afirmoque
a empresa não é um objetivo em si
mesma; é um instrumento de
desenvolvimento social. Ela tem de
funcionar bem, ter lucro para poder
cumpriressas responsabilidades.Mas
elanãoéumobjetivoem simesma–
e essa idéia agora está pegando. Sou
umcéticoqueacreditaemcatequese.
Precisamospregar idéias,queumdia
pegam. Nos anos 50, por exemplo,
ninguémacreditavaemexportaçãode
produtosmanufaturados.
Eu tinha também o apoio dos meus
companheiros na atividade cultural.
Quando a Metal Leve fez 25 anos,
propuseram um grande jantar. E eu
disse:“Jantar,coquetel,aspessoasvão
por obrigação e logo esquecem.
Vamos fazer uma comemoração
menos efêmera”. Lembrei-me da
Revista de Antropofagia – um dos
documentos mais importantes do
modernismo–e fizemosumaedição
em fac-símile, que teve um grande
sucesso. Fomos uma das primeiras
empresasafazerpublicaçõesdelivros.
Fizemos publicação de arte, tudo
relacionado com omodernismo e a
Metal Leve ficou muito conhecida
pelaatividadecultural. Issobeneficiou
a imagemdaempresa,maisdoqueo
produto – que ficava dentro dos
motores e não tinha qualquer
sedução. Tive uma assessora de
comunicação social –MayNunesde
Souza–queacompanhouquase toda
acarreiradaMetal Leve, eeudiziaa
ela: “Queremos criar uma boa
imagem da empresa, mas com duas
condições básicas: a imagem temde
corresponder à verdade – simpatia
paganãonos interessa.Vamos teruma
relação aberta com a imprensa”.
Comeceiminhavidacomo jornalista
– aos 15 anos era redator do Estado.
Fuio redatormais jovemdoEstado, e
aprendi a escrever, porque o jornal
exigia uma linguagem correta,
simples, acessível aopúblicomédio.
Fiquei conhecendo os bastidores da
sociedadeedapolítica. Passei quatro
anos no Estado e foi uma escola
insubstituível.Foiondeeuconhecias
agrurasde ser repórter;demodoque,
quando estava naMetal Leve ou na
Secretaria de Cultura, Ciência e
Tecnologia do governo Paulo Egídio,
eu sabia as dificuldades por que
passaraorepórterquevinhaconversar
comigo. E também o que era – para
ele–umaverdadeiranotícia,diferente
da informação que só interessava a
nós...
ES
PM
HÁMAISDE 30ANOS, AFIRMOQUEA EMPRESA
NÃO É UMOBJETIVO EM SI MESMA; É UM
INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
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