Julho_2003 - page 7

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R E V I S T A D A E S P M –
J U L H O
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A G O S T O
D E
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O saber não éumobjetoque se re-
cebedasgeraçõesquese foram,para
anossageração;osaberéumaatitu-
dedeespíritoquese forma lentamen-
te ao contato dos que sabem. A
universidade é, em essência, a reu-
nião entre os que sabem e os que
desejamaprender.
Há toda uma iniciação a se fazer. E
essa iniciação, como todas as inicia-
ções, se faz em uma atmosfera que
cultivesobretudoa imaginação.Cul-
tivar a imaginaçãoécultivar acapa-
cidade de dar sentido e significado
às coisas. A vida humana não é o
transcorrer monótono de sua rotina
quotidiana;avidahumanaé, sobre-
tudo, a sublime inquietação de co-
nhecer e de fazer. É essa inquieta-
çãodecompre
ender ede
aplicarque
encontrou, afinal,a suacasa.Acasa
onde seacolhe todaanossa sedede
saber e todaanossasededemelho-
rar,éauniversidade.”
TrechosdodiscursodeAnísioTeixeirana
solenidadede inauguraçãodaUniversidadedo
DistritoFederal,RiodeJaneiro,1935.
Desdemeusprimeirosestudossobre
educação,a figuradeAnísioTeixeira
(*) marcou-me profundamente pelo
brilhantismo de suas análises sobre
o processo educacional brasileiro e
por suas realizações emprol do en-
sinonoBrasil.
Em suas palavras transcritas acima,
Teixeiratraduzaimportânciadaescola
edoensinosuperiorparaumpaíscom
nossas condições geográficas, materi-
aiseparaaconjunturadaépoca.
Desde aquela época e ainda hoje
observa-se, nocampodoensino su-
perior brasileiro, ummercado com
característicascertificadorasporparte
de suaclientela.
Dopontodevistadas Instituiçõesde
EnsinoSuperior é possível observar
o esforço que resultou na multipli-
caçãodessesestabelecimentos,prin-
cipalmente após a promulgação da
novaLeideDiretrizeseBases (1996).
Seusclientesempotencial–aspiran-
tes e integrantes domercadode tra-
balhonacional–ameaçadosporuma
conjunturanacional (e,mesmo,mun-
dial)negativaem termosdeníveisde
empregabilidade obrigam-se a fre-
qüentar cursos superiores e/ou cur-
sos de extensão em busca do apri-
moramentode seusconhecimentos,
na tentativadamanutençãode suas
posições no mercado de trabalho.
Essapressão fazcomqueconcluam
que ao obter o certificado de con-
clusãodeumcurso,aumentarãoseu
nível deempregabilidade.
Conclusãoerrada!
Crença referente a um passado
longínquo!
Essas e tantas outras crenças a res-
peitodesse assunto fazem comque
fiquem cegos para a nova realidade
(não tão nova assim): o mundo
mudou ... e continuarámudando a
velocidades cada vez maiores.
Surgidas da opinião de familiares,
figurasdeautoridade, do “ruído”do
mercado, de profissionais formado-
res de opinião com vieses em seu
pensamentoestratégicoarespeitodo
novo mercado de trabalho na
economiadoconhecimento.
Devemperceber, comonaspalavras
de Cristovam Buarque, que o
diploma conseguido hoje possui
prazodevalidade...
Bemcomoqueasempresasnecessi-
tam (emuito) do trabalhode profis-
sionais que possuam, em seuperfil,
um“mix”decompetências técnicas,
decomportamentoe inter-relaciona-
mentopessoal comdiferentescultu-
ras eníveis organizacionais, habili-
dades que permitam sintonizar-se
com o constante estado demudan-
çadomundo,atitudeseposturaspo-
sitivasna formadeconduzirseus tra-
balhos eagestãode suas carreiras.
2.
O
SISTEMA DE ENSI-
NO
NO BRASIL
“... a educação erapara a elite ede
tipo aristocrático. O colégio dos je-
suítas, na Bahia chegou, mediante
solicitações repetidas, a graduar
bacharéis. Seus alunos graduados
eram recebidos naUniversidade de
CoimbraparaoúltimoanodoColé-
gio de Artes, reconhecidos os três
primeiros feitos na Bahia. O Brasil
consideravaoscolégios jesuítascomo
vestíbulos da universidade, cuja
formação em Letras Clássicas lhe
pareciaamais perfeita formaçãodo
homem. Quando, ainda hoje nos
referimosaogostoda falanoBrasil e
à inclinaçãonacionalparaaoratória,
que poderia decorrer desse tipo de
educação universitária, pode-se
recordar o Padre Serafim Leite que
citahaverem ficadoospadres jesuítas
muito surpreendidos com os índios,
tendoumdeles chegadoadizer que
EduardoNajjar
(*) Anísio Teixeira,
educador, pensador e administrador. Dentre os inúmeros
cargos que exerceuna área de educação estadual e federal destaco sua
passagem comoSecretário da Educação eCultura doGoverno Federal
(1931/1935), a criação daUniversidade doDistrito Federal (1935), consultor
daOrganização dasNaçõesUnidas para Educação, Ciência eCultura–
UNESCO (1946/47), diretor geral do INEP (1952/1964), reitor da
Universidade deBrasília (1963/1964),membro doConselho Federal da
Educação (1962/1968).
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