Julho_2002 - page 104

Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
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se resolvepela transparência em rela-
ção aoque foi realizado epelo convite
a que isso gere diálogos sociais apro-
priados. A Natura foi
benchmarking
nesse sentido, em2001, comapublica-
ção de seu relatório anual de respon-
sabilidadecorporativaeaestratégiade
convite aodiálogo social.
FG – Falando então da Natura,
especificamente. Esse conceito global
que estamos discutindode responsabi-
lidade social empresarial foi introdu-
zido como mais um valor cultural da
cultura organizacional ou como um
projeto específico, com objetivos bem
determinados em um cronograma de
trabalho?
Guilherme –Não tenhodúvidade
que,nocasodaNatura, estamos falan-
dodeculturadeorganização,derefle-
xão e de busca de identidade
corporativa.Acho que a responsabili-
dade social corporativa faz parte do
nossoDNA. Os valores básicos fazem
parte da nossa constituição inicial. A
Naturaestácom33anos,masnavira-
dadadécadade80para90elapassou
por umprocessode fusãodas compa-
nhias. Éramos cinco empresas meno-
res, interdependentes, que apesar de
serem pequenas e terem uma relação
próxima,apresentavamdiferençascul-
turais relevantes. Na fusão passamos
por um longo processo de
questionamento e de reestruturação,
que incluiudesdearedefiniçãodossis-
temas de informação, ampliação da
capacidade produtiva, redesenho das
instalações e substituição de parte do
corpo dirigente, até, essencialmente –
eesseeraonúcleoquepoderiadarsen-
tido a todas essas redefinições demu-
dança de plataforma – o que eram as
suas crenças e valores, qual era o ele-
mentoaglutinadordessascompanhias,
dessas pessoas, desses sistemas. Nesse
momento, nocomeçodadécadade90,
fizemosumtrabalhoprofundo, tentan-
do responder a algumas perguntas: o
que acreditamos ser o papel de uma
empresa;oquequeremos;qualéopro-
jeto de empresa; qual é o sentido que
isso tem em nossas vidas; e o que a
empresapodeoferecerparaasocieda-
de?E foi assimque a gente explicitou
os nossos compromissos com alguns
valoresecomeçamos,demaneiramais
consciente, a disseminar e a construir
essaculturaorganizacional.Adecisão
nãoestavadesconectadadoambiente
socialvividono iníciodadécadade90.
Fiz parte, por exemplo, do PNBE –
PensamentoNacional das Bases Em-
presariais, ummovimentoque, navi-
rada da década, propunha ao
empresariado a reflexão sobre a im-
portância do exercício da cidadania.
Vivíamos, também, o fenômeno de
crescimentodasONGsedomovimen-
to pela ética. Tudo isso fazia sentido
paraosnossosvalorespessoaiseacho
que, precocemente, entendemos que
esse era o papel das empresas, inves-
tindode fatonaconstruçãodessacul-
tura. Portanto, como resposta à sua
pergunta, não temos um projeto
mercadológico que se esgota no tem-
po; temos, sim, a instalação de uma
cultura.Paraqueela se sustente, pre-
cisamosde instrumentosdegestão,de
indicadoresedeuma sériedeelemen-
tos que a retiremda esferadodiscur-
so e a coloquemnoplanoda vivência
cotidianada companhia.
FG–Pensandonosnossos leitores,
que instrumentos foram esses?
Guilherme –Quando se quer ins-
talarumacultura, oprimeiroelemen-
to é o comportamento da liderança.
Ele é insuficientemuitas vezes,mas é
absolutamente indispensável.Seas li-
derançasmaiores, deuma instituição
qualquer, não estiveremde fato com-
prometidas com os valores que ela
apregoaelesserãoapenasdecorativos.
SérgioEsteves –As pessoas preci-
sam ser do jeito que mencionam ser
em seus discursos. O
eu sou assim
é
bastante diferente do
eu penso assim
.
Guilherme –Exato.Outro impor-
tantepassoquedemos foi buscarmo-
delos, exemplos que pudessem trans-
mitir as nossas crenças para o corpo
daorganização,mostrandoqueaqui-
loqueestávamos falandoerapossível.
Nadécadade90, começamosadesen-
volver um relacionamento com a es-
colaao ladoda fábricade Itapecerica
da Serra, sem qualquer grande pre-
tensão. A riqueza desse aprendizado
mútuoeoretornoque tivemossurpre-
endeu a todos nós. O interesse que
umaaçãosocial simplesdespertavana
sociedadeeraenorme.Aindanocerne
das nossas atividades, fizemos uma
opção pela ética, absolutamente
inquestionável, fechando questão de
que não faríamos qualquer tipo de
concessão para comportamentosme-
noséticosadvindosderepresentantes
do poder público ou de qualquer ou-
tro setor,mesmo vivendo emuma so-
ciedade emque o graude corrupção,
de burocracia e de pressão exercida
sobreomundo empresarial é contun-
dente. Deixamos claro que não have-
ria qualquer condescendência na or-
ganizaçãocomqualquer tipodecom-
portamentomenos lícito e, portanto,
cadaumque tratasse, em suasárease
em suas responsabilidades, de cuidar
da aplicação desse princípio. Decidi-
mos, ainda, que se fôssemosautuados
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